A pescadora de almas
Desde pequena ela compreendia a vida como um grande palco em que todos os atores deveriam zelar uns dos outros. Acreditava que o cuidado mútuo respondia pela possibilidade de as pessoas serem felizes e unidas, de semelhantes encontrarem juntos o sentido da existência.
Aprendeu muito cedo que se cada um se esforçasse por todos, o fardo seria leve e a providência seria alcançada rapidamente.
Assim dedicou dias e noites à prática do bem, à edificação da paz e à interação com o outro movida por empatia, simpatia e alegria.
Não se intimidava diante da tarefa de servir. Campanhas de coleta de caixa de leite para auxiliar o aquecimento de casas mais vulneráveis, preparação e venda de refeições e realização de rifas para contribuir com projetos missionários, e assim como diversas outras práticas de igual teor, faziam dela uma personalidade importante onde a sua presença se manifestava como entrega desinteressada.
Frequentava uma igreja em sua comunidade local. Apreciava os cultos e entregava-se por inteiro e à celebração do Altíssimo. Louvor, adoração, estudo da palavra e participação em atividades missionárias coletivas integravam a sua rotina sincera e de devotada.
Em meio a essa dinâmica de viver a vida, de oferecer-se para o bem-estar de muitos, junto com os congregantes de sua comunidade religiosa, decidiram entregar o imóvel onde realizavam as atividades da igreja e adquirir terreno para construção do templo definitivo. Por força da opção feita, identificaram que o sonho futuro (formatar o templo definitivo de suas crenças) não cabia no sonho presente (ter espaço para realizar os encontros dos irmãos em fé).
A alegria da conquista, então, dividiu o palco da vida com a preocupação de não ter onde instalar a comunidade para erguer os seus clamores, louvores e preces ao Criador. Assim, as criaturas procuraram as respostas às perguntas: o que fazer, como fazer, quando fazer? O novo espaço inspirava a esperança, a novidade, o advento do porvir, o sonho repleto de imagens, sons, cores e possibilidades.
Nesse contexto sonhador, surgiu o compromisso de todos: a comunidade cristã que estava unida sob o teto antigo decidiu que um único ambiente seria multiplicado em diversos espaços, sem que com isso perdesse a unidade.
Aquela comunidade mansa do Pedregal, localizada no estado do Goiás, resolveu que os cultos seriam realizados nos lares de todos e de cada um dos colaboradores da igreja e sempre a ressoar a pregação profunda, os cânticos sagrados, a reflexão da liturgia. E no arremate daquela assembleia de louvor seria compartilhada uma refeição, em que o alimento do corpo teria sabor de alimento da alma.
A prática do templo multiplicado nos lares dos congregados, despertou naquela missionária de vontade inquebrantável a convicção de que era chamada a realizar muito mais do que até então havia feito. Declarou-se, desse modo, Pescadora de Almas, concentrando todos os seus propósitos nesse mister: resgatar vidas, renovar anseios, fortalecer corações, iluminar espíritos, proceder à aproximação de criaturas ao Criador, sem olvidar da assistência material a quem carecia de auxílio para equilibrar as dificuldades da vida física. Corpo e alma resguardados.
Imbuída dessa aspiração e com a tarefa de receber em seu lar a comunidade para realizar o culto, transformou a sua casa em ambiente sagrado. Inspirada pelos dons que tinha, preparou diligente os cômodos do seu habitat, bem como as atividades a transcorrer no culto, e assim pretendeu acolher a comunidade: decoração, sorteios, difusão da palavra bíblica, refeição saudável, nutritiva e saborosa, além de suaves cantos de acolhimento do amor divino. O cenário ficou perfeito!
O público multiplicou-se na proporção direta da generosidade da Pescadora de Almas.
A Pescadora de Almas, então, expandiu-se na demanda criativa de realização de um de seus sonhos: pescar almas mediante o amor ao próximo, a ética da boa vontade, a disponibilização de seu tempo, energia, compreensão e caridade.
A par dessa iniciativa pessoal e da expectativa dela resultante – contribuir para a divulgação da prática do bem, da palavra do Evangelho e da melhora na qualidade de vida, em todos os seus aspectos – a Pescadora de Almas experimentou a bem-aventurança de encontrar parceiros iguais a si para ampliar os benefícios que poderiam ser alcançados por meio de ações coletivas otimizadoras daquela entrega caridosa.
Lançava a rede e pescava em pescaria dupla e complementar: pescava almas comprometidas com a felicidade alheia, pois que o seu exemplo era manancial que nutria o empenho e reconfigurava a disponibilidade de muitos colaboradores; pescava almas sôfregas que, tocadas por manifestações autênticas de auxílio e apreço, renovavam-se e passavam a acreditar na vida e a ter esperanças em dias melhores.
Rede. Redes. Muitas redes. Uma malha de luz em constante expansão. O exemplo, a entrega desinteressada e a dedicação sem descanso, com simplicidade, humildade e amor, contagiou muitos corações e correntes do bem se estabeleceram e se avolumaram, confirmando o adágio segundo o qual pequenos impulsos individuais (firmados pelo carisma e pelo trabalho da Pescadora de Almas) somados a miúdos, mas não irrelevantes diligências pessoais, geram inestimável experiência de superação, equilíbrio, envolvimento e consagração do bem-estar individual e coletivo do corpo e da alma.
Sonhar é possível e imprescindível. Sonhar em ser uma Pescadora de Almas ao lado de voluntários do bem guarda a expressão máxima do Amor universal.